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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Quem a final é esse tal de mercado?


Por Norbert Fenzl

A imprensa local, nacional e mundial nos inunda com informações á respeito da crise que se abate sobre a economia globalizada. Milhões de trabalhadores dos EUA e da Europa perdem seus empregos, suas casas, seus seguros e enquanto os governos gastaram 14 trilhões de US$ desde 2008 para salvar os bancos, países inteiros ficaram na beira da falência.

Os economistas do plantão da grande mídia comentam muito sem explicar nada e somente aumentam o nível da confusão. Mais todos eles aparentemente consultam o mesmo oráculo e como as bruxas dos tempos medievais tentam interpretar os humores do mesmo.

Só que hoje esse oráculo se chama mercado, essa entidade mágica que aparentemente não tem dono e não responde á ninguém e que segundo os gurus da economia globalizada deve estar livre! Dependendo do humor desse tal de mercado, as bolsas de valor fazem lucros ou perdas astronômicos e os juros dos países sobem ou caem. Se ele está muito mal humorado, milhões de trabalhadores perdem empregos, os gastos em educação, saúde, infra-estrutura são cortados e os Bancos Centrais correm para tomar decisões em suas reuniões clandestinas para mexer com a famosa taxa de juros ou o tal de SELIC (Sistema Especial de Liquidação e Custodia de Títulos Públicos).

Aí vem minha grande dúvida. Quem é esse tal de mercado cujo humor tem tanta influencia na vida dos povos do mundo? Quem é o Banco Central e quem decide que um Banco Central deve ser independente? Independente de quem? Dos governos que nos elegemos? Como uma entidade cujas decisões afetam tão profundamente a sociedade inteira pode tomar decisões completamente a revelia das instancias democráticas de um país? Quem é aquele grupo seleto que decide sobre as taxas dos juros? Quem conhece estes senhores que (no caso do Brasil) compõem o tal de COPOM (Comitê de Política Monetária) e cujas decisões têm tanto impacto sobre a economia nacional e nossa vida?

Bem, primeiro o que é o mercado? Os diversos dicionários designam por mercado o local no qual agentes econômicos (que pode ser um indivíduo, uma família, uma empresa, um país, um banco central ou qualquer outro tipo de entidade que toma decisões econômicas) procedem à troca de bens por uma unidade monetária ou por outros bens. Isto significa em ultima instancia que o mercado é composto de trabalho e capital que são trocados através da circulação de bens de consumo. Então o mercado é composto fundamentalmente por aqueles que vendem sua força de trabalho (os assalariados e trabalhadores em geral) aqueles que empregam os trabalhadores e assalariados, os bancos que gerenciam o dinheiro de todos e aqueles que apostam nas bolsas de valores como se fossem jogadores nos grandes cassinos de Las Vegas.

Mais curiosamente quando as noticias falam dos humores do mercado eles nos mostram imediatamente curvas das variações do PIB e das ações negociadas nas bolsas de valores do mundo: gráficos com nomes esquisitos como o índex da Bovespa, do Dow Jones, Nasdaq, Dax, etc.. etc. Em outras palavras o tal de mercado que se tornou o oráculo dos políticos e os economistas de plantão é o mercado financeiro. Aí as coisas começam a ficar mais claras quando verificamos quem é o famoso Comitê de Política Monetária do Banco Central, o grupo dos pajés da economia nacional que consultam esse oráculo e decidem sobre o futuro das nossas vidas.

Vejamos por exemplo os membros do COPOM do governo Lula: Henrique Meirelles, presidente do BC e ex-presidente mundial do Bank Boston. Mario Mesquita, ex-economista-chefe para a América Latina do ABN-Amro. Paulo Cunha, ex-vice-presidente do Lehman Brothers (!!!!!)e diretor do HSBC. Alexandre Tombini, ex-assessor do FMI. Afonso Bevilaqua, professor da PUC-Rio. Rodrigo Azevedo. Ex-diretor do Credit Suisse Bank. Antonio Gustavo Matos do Vale, um economista e funcionário de Carreira do Banco Central.

Em outras palavras: la creme de la creme do mercado financeiro internacional

Mais, na vida real o mercado não é também composto por aqueles que trabalham e produzem as riquezas e o PIB de um país e que depositam o seu dinheiro nos bancos e ainda pagam caro por ter esse “direito”? Eles não deveriam ser representados de alguma forma nas decisões sobre o futuro econômico de um país já que são eles os mais atingidos pelas subidas e decidas das taxas de juros, da SELIC, etc.?

Aparentemente não. Nos que elegemos o nosso governo, não temos nem sobra de voz nem voto em grêmios que decidem se vamos ficar desempregados ou si nossos salários serão desvalorizados ou si as verbas para educação saúde ou infra-estrutura serão cortadas. Desse tal de mercado do qual estes senhores falam definitivamente nos (o povo) não fazemos parte.

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