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sábado, 10 de dezembro de 2011

E se Altamira fosse a capital do Pará?


O professor Aluízio Roberto Paiva dos Santos, concedeu entrevista exclusiva ao Instituto Humanistas Unisinos, com o tema "e se Altamira fosse a capital do Pará?" 
O professor Aluízio é mestre em filosofia da mente pela Universidade Federal de São Carlos e atualmente é professor de Filosofia e Ética na Faculdade Integrada Brasil Amazônia – Fibra e na Faculdade de Belém – Fabel.
O que se constatou ao longo da história do Pará foi uma situação de abandono promovido pelos governos, que sustentaram sua capital distante geograficamente do restante do estado”, aponta o professor da Faculdade de Belém – FABEL.

Contrário à divisão do Pará, mas favorável a mudanças no estado, Aluízio Roberto Paiva dos Santos propõe outro enfoque para alavancar o desenvolvimento e diminuir as desigualdades entre os municípios da região: mudar a capital para o centro do estado. Se a capital do Pará fosse Altamira, argumenta, haveria mais integração e proximidade entre as cidades-polos, pois Altamira fica a “800 km de Belém, 700 km de Marabá, 600 km de Santarém e 700 km de Itaituba”.

Na entrevista a seguir, concedida por e-mail para a IHU On-Line, Santos reitera que “com a mudança da capital as distâncias entre os principais municípios do interior serão encurtadas, esses municípios representam polos que ajudarão no escoamento do desenvolvimento educacional, sanitário, ambiental e social, uma vez que as suas riquezas estão sendo valorizadas, como os recursos naturais, hidrelétricos, agronegócio e investimento em infraestrutura de navegação. Com a mudança, finalmente concluir-se-ia a Transamazônica, importante rodovia de integração entre Altamira e Santarém e Altamira e o sul do estado; consequentemente nasceriam projetos de integração entre Altamira e Marabá, Altamira e Itaituba e Altamira e Belém, fazendo dessas cidades polos de ligação, integração e unificação por um Pará mais forte e desenvolvido”.

De acordo com ele, esta é uma mudança necessária para “salvaguardar a cultura e a região e aliviar a cidade de Belém, que encontra-se saturada, com grande número de habitantes e pouco espaço e infraestrutura para acolhê-los, situação que contribui em larga escala para a marginalização dos menos favorecidos na metrópole”. Se o Pará for dividido, esclarece, irá perder aspectos culturais e regionais que fazem parte de sua história, além das características típicas de Rio-mar, que deram origem ao estado paraense. “Com a mudança, esse quadro é revertido, o governo tem que atender a uma demanda igualitária, representada pelos polos de integração, trazendo quem hoje está distante do olhar central, a uma visão de curto alcance e mais cidadã concretamente”, conclui.

Aluízio Roberto Paiva dos Santos é mestre em filosofia da mente pela Universidade Federal de São Carlos e atualmente é professor de Filosofia e Ética na Faculdade Integrada Brasil Amazônia – Fibra e na Faculdade de Belém – Fabel.

Confira a entrevista.

IHU On-Line Como o senhor se posiciona diante da divisão do Pará?

Aluízio Roberto Paiva dos SantosTenho dois motivos para não querer que o Pará seja dividido. Primeiro é o aspecto cultural, e o segundo é o aspecto regional. O Pará forma um todo como cultura, ele possui história de quase 400 anos, tem uma cultura riquíssima, tem as suas características regionais, que são ribeirinhas. É um estado diferente de qualquer outro no Brasil. Ele possui grandes rios que encantam não apenas pelo potencial econômico, mas também pela sua beleza, e isso já o caracteriza como um estado exótico. A vida do seu povo é basicamente ribeirinha; ela deve ser pensada como o estender-se do tempo ao longo do seu Rio-mar, de todo navegável.

Sua região como um todo é uma porta de entrada à Amazônia, diferentemente seria se sua região fosse um contínuo de terras trafegáveis. A cultura do Pará foi surgindo ao longo dessas comunidades ribeirinhas, e isso não é menor, pois é a base da formação cultural. A questão regional se apresenta com suas características típicas ao redor desses grandes rios, não só de peixe e água-doce, mas de sua flora e fauna exuberante e diversificada. Isso se perderia com a divisão; perderíamos o elo que as une, o elo fundamental da alma introspectiva de um povo. Você já pensou passar horas e horas à beira de um barco sentindo os grandes rios? Os rios do Rio-mar? A origem da palavra pará decorre do termo pa'ra que significa rio-mar na língua indígena tupi-guarani. Os indígenas chamavam a região de Pará porque o braço direito do rio Amazonas, ao se juntar ao rio Tocantins, em solo paraense, se alarga de tal maneira que não se pode ver a outra margem, parecendo, assim, um mar, um rio-mar.

IHU On-LineApesar de ser contra, o senhor propõe uma mudança da capital para solucionar os problemas do estado como a saturação da metrópole. Em que consiste sua proposta?

Aluízio Roberto Paiva dos SantosToda mudança gera movimento e dinâmica. Minha proposta não é nova, mas é original. Não é nova porque alguns estados fizeram a mudança de sua capital, e em todos eles a ideia deu certo (Brasília para Brasil, Belo Horizonte para Minas, Goiânia para Goiás, etc.). A mudança que proponho é para salvaguardar a cultura e a região e para aliviar a cidade de Belém, que encontra-se saturada, com grande número de habitantes e pouco espaço e infraestrutura para acolhê-los, situação que contribui em larga escala para a marginalização dos menos favorecidos na metrópole. Mudança para integrar mais e mais o estado como um todo. Se a capital mudar para o centro, para Altamira, por exemplo, de forma efetiva, a nova capital vai integrar o estado; ela ficará aproximadamente equidistante de outras cidades-polos: 800 km de Belém, 700 km de Marabá, 600 km de Santarém e 700 km de Itaituba, integrando o estado de forma mais eficaz do que Belém foi em seus 400 anos como capital; e vai desenvolver: o Pará atualmente é um dos estados que mais recebe migrantes. Por quê? Porque chegou a hora de desenvolver a região Norte a partir do desenvolvimento mineral, agropecuário e hidroviário, já que 55% do Pará é protegido ambientalmente.

IHU On-LineQuais são hoje os maiores problemas de infraestrutura do estado do Pará?

Aluízio Roberto Paiva dos SantosOs maiores problemas de infraestrutura no Pará são, grosso modo, a precariedade na educação, na saúde e nos meios de transporte, uma vez que grande parte do investimento ao longo de séculos foi concentrado em Belém.

IHU On-Line Como ocorre hoje a integração entre Belém e os demais municípios?

Aluízio Roberto Paiva dos SantosBelém não se integra aos demais municípios por sua dificuldade geográfica. A verdadeira integração se fará com a mudança da capital, e, se não foi feito até então, é porque a localização geográfica é fundamental.

IHU On-LineCom a mudança de capital como será possível integrar e desenvolver o Pará?

Aluízio Roberto Paiva dos SantosCom a mudança da capital, as distâncias entre os principais municípios do interior serão encurtadas; esses municípios representam polos que ajudarão no escoamento do desenvolvimento educacional, sanitário, ambiental e social, uma vez que suas riquezas estão sendo valorizadas, como os recursos naturais, hidrelétricos, agronegócio e investimento em infraestrutura de navegação. Com a mudança, finalmente concluir-se-ia a Transamazônica, importante rodovia de integração entre Altamira e Santarém e Altamira e o sul do estado; consequentemente nasceriam projetos de integração entre Altamira e Marabá, Altamira e Itaituba e Altamira e Belém, fazendo dessas cidades polos de ligação, integração e unificação por um Pará mais forte e desenvolvido.

IHU On-LinePor que, em sua opinião, a maioria das pessoas que aprovam a não divisão do Pará vivem em Belém? O que o senhor acha do discurso de que os que apoiam a não divisão querem um Pará grande?

Aluízio Roberto Paiva dos Santos – O paraense tem uma alma grande, que se vivenciou ou moldou ao longo dos seus 400 anos de Rio-mar. A maioria deseja a integração, deseja desenvolver o seu estado, pelo fato de que grande parte da população que vive hoje em Belém é do interior do estado, pessoas que desejam ver seu município natal desenvolvido, com o grande potencial que a maior parte das nossas cidades possuem, sendo cada uma importante peça deste quebra-cabeça que é o Pará. O discurso dos políticos honestos que apoiam a não divisão não é politiqueiro; é um discurso consciente das potencialidades de um Pará grande e forte, capaz de responder à federação em toda sua potencialidade, servindo através do uso consciente e sustentável de seus recursos naturais, culturais, históricos e etnográficos.

IHU On-LineQual a atual situação dos moradores que vivem distante da capital paraense?

Aluízio Roberto Paiva dos SantosO que se constatou ao longo da história do Pará foi uma situação de abandono promovido pelos governos, que sustentaram sua capital distante geograficamente do restante do Estado. Com a mudança, esse quadro é revertido, o governo tem que atender a uma demanda igualitária, representada pelos polos de integração, trazendo quem hoje está distante do olhar central, a uma visão de curto alcance e mais cidadã concretamente.

IHU On-LineDeseja acrescentar algo?

Aluízio Roberto Paiva dos SantosCom a mudança da capital, a bela cidade das mangueiras, bela de todas as épocas, tornar-se-ia possivelmente um patrimônio cultural da humanidade, se se fizerem os “retoques” necessários à Orla de Belém (Portal da Amazônia), ao setor comercial, à conservação do ver-o-peso, à preservação do Círio de Nazaré e a manutenção e ampliação da infraestrutura já programada por governos anteriores, uma vez que Belém não tem como crescer horizontalmente.

Instituto Humanistas Unisinos

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